O Sindsep-AM, representante dos servidores públicos federais no Amazonas, vem a público denunciar lentidão na apuração do desaparecimento do servidor licenciado da Funai, Bruno Araújo (indigenista), e do jornalista inglês Dom Phillips, do The Guardian, exigindo do governo e demais autoridades competentes a imediata mudança de postura, para que se dê à sociedade uma pronta resposta sobre os fatos.

Conforme nota oficial da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), ambos sumiram enquanto faziam o trajeto da comunidade São Rafael, em Atalaia do Norte (AM), até a sede do município. Eles investigavam denúncias feitas por indígenas de várias etnias a respeito de sucessivas invasões que trazem graves consequências.
A região fica no Vale do Javari, segundo maior território indígena demarcado do Brasil, e uma área de permanente trânsito de narcotraficantes brasileiros, colombianos e peruanos. A suspeita do desaparecimento de Bruno e Dom recai sobre esses atores ilegais que atuam naquele espaço.
“É urgente que o governo federal, através do Ministério da Justiça, da Funai, Polícia Federal, Exército e Marinha intensifiquem as buscas pelo paradeiro do jornalista e do indígena, a considerar, principalmente, que cada hora nesse momento é crucial para um desfecho diferente nesse caso”, comenta o secretário geral do Sindsep-AM, Walter Matos.
A imprensa chegou a noticiar que o Comando Militar da Amazônia se colocou à disposição para auxiliar nas buscas, na segunda-feira (6), porém, ainda aguardava ordens do “escalão superior”. Além disso, um helicóptero estava sendo requisitado pelas equipes de busca aos dois desaparecidos, porém, a aeronave só foi utilizada a partir desta terça-feira (7), mais de 48h após o acontecimento.
No blog Gestão, Política & Sociedade, do Estadão, o coordenador do grupo de pesquisa Política e Povos Indígenas nas Américas (Popiam), Leonardo Barros Soares, classifica a situação da Funai e de outros órgãos de proteção socioambiental como “insanável”. Ele atuou como indigenista na Funai em 2019.
“Não há motivos para pensar que a Funai conseguirá fixar servidores qualificados nos locais mais remotos do país. A precarização da atividade laboral indigenista tem sido a tônica dos governos nos últimos dez anos, com uma aceleração sem precedentes nos anos do governo Bolsonaro”, pontua ele.
O descaso com o assunto é mais uma prova da falta de respeito com o serviço público federal, com os servidores e seus órgãos, que há anos vem sendo desmantelados, situação que se agravou ainda mais na atual gestão. Exemplo disso é a falta de valorização das servidoras e servidores, que estão com seus salários congelados há quase cinco anos, o que representa uma defasagem salarial de 19,99% somente no governo Bolsonaro. Enquanto isso, o presidente sem palavra alterna entre dizer que dará 5% ao funcionalismo neste ano e depois afirmar que “não há dinheiro”.
Além disso, como já denunciado diversas vezes pelo Sindsep-AM, enquanto crescem os números de queimadas, desmatamento, garimpo ilegal e ataques aos povos indígenas, reduz-se ainda mais os orçamentos e os quadros de servidores em entes públicos do governo federal que anteriormente eram referências na proteção ao meio ambiente e dos povos da floresta, como Ibama, ICMbio e Funai.
A Fundação Nacional do Índio, por exemplo, tem R$618 milhões de orçamento para 2022. Porém, enquanto já estamos no sexto mês do ano, foi gasto menos de um terço (R$192 milhões) do que está disponível, como se os indígenas e indigenistas não estivessem numa situação de calamidade, necessitando de ajuda.
No caso dos desaparecidos do Vale do Javari, que representam tanto esse cenário de desmonte ambiental, os povos da Amazônia e a sociedade brasileira exigem esmero do governo federal para a imediata resolução do caso.