Sem entrar no mérito da questão, que diz respeito à Justiça e ao Ibama, o Sindsep-AM repudia o comportamento da deputada estadual Joana Darc (União-AM) junto aos servidores do órgão, no caso envolvendo a capivara Filó e o influencer Agenor Tupinambá. O animal selvagem foi domesticado pelo rapaz em uma fazenda no município de Autazes, a 112 quilômetros de Manaus, e, após, exibi-lo nas redes sociais, ele acabou sendo autuado e multado pelo Instituto, que determinou a entrega do bicho ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas).
O caso gerou grande repercussão nacional e o órgão começou a ser hostilizado, assim como seus servidores. Segundo o secretário-geral do Sindsep-AM, Walter Matos, Joana Darc chegou a empurrar agentes na sede do Ibama, em Manaus, no último dia 30 de abril, quando esteve no local para tentar “resgatar” a capivara.
Joana fez uma transmissão ao vivo em seu perfil no Instagram, sendo possível identificar o momento em que ela destranca a jaula onde estava o animal e joga as chaves para longe.
“Não nos compete comentar o que é ou não legal em relação à posse do animal, embora o cuidado com a fauna e a flora seja de competência dos órgãos ambientais. Porém, é nossa obrigação defender os servidores do Ibama, que apenas estavam cumprindo o seu ofício. E nesse quesito a parlamentar agiu de fato de forma agressiva e descortês”, comentou Matos.
O sindicalista destaca que essa não é a primeira vez que o Ibama é atacado e que o papel de um parlamentar deveria ser o de defender os trabalhadores do serviço público e não atacá-los. “Onde estava a deputada quando tocaram fogo na sede do Ibama em Humaitá? Ou durante os 4 anos de governo Bolsonaro em que o órgão foi desmontado em detrimento das políticas de preservação da fauna e da flora?”, questionou, argumentando não poder imaginar que o serviço público vai melhorar com ataques aos seus colaboradores. “O que nós precisamos é de concurso público e valorização. Mas não queremos dizer, com isso, que a deputada não tenha direito a levantar as pautas que acha justas. Entretanto, não é empurrando no peito do Ibama e nem falando mal de seus servidores que ela vai conseguir o que considera correto. Em nossa visão, ela tomou um caminho equivocado”, contextualizou Matos.
Visões opostas
Segundo o Ibama, Agenor Tupinambá cometeu “práticas relacionadas à exploração indevida de animais silvestres para a geração de conteúdo em redes sociais”, de acordo com o Decreto nº 6.514/2008, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998). O juiz federal que cuida do caso, entretanto, teve outro entendimento e concedeu a guarda provisória do bicho ao influenciador amazonense.
Em sua decisão, o magistrado argumentou que “não é a Filó que mora na casa de Agenor. É o autor que vive na floresta, como ocorre com outros milhares de ribeirinhos da Amazônia, realidade muito difícil de ser imaginada por moradores de outras localidades urbanas do Brasil”. O juiz disse, ainda, que o influencer vive “em perfeita e respeitosa simbiose com a floresta e com os animais….”
Em vídeo, o analista ambiental Roberto Cabral, que é mestre em ecologia, criticou a decisão da Justiça Federal, afirmando que ela prejudica a reintrodução do animal à natureza e o lugar de uma capivara não é em casa. “O melhor destino dela é ser livre, mas realmente livre, realmente na mata e com outros de sua espécie. Não sendo humanizada”, comentou.
O Sindsep-AM, que representa os trabalhadores do serviço público federal no Amazonas, prometeu seguir acompanhando o caso.