
Quando, em março de 2025, o BRB, comandado pelo Governador Ibaneiz Rocha (PMDB-DF), anunciou a compra, por R$ 2 bilhões, do Banco Master, mantendo seu dono, Daniel Vorcaro, em posições de controle, o alerta amarelo, que já existia no mercado financeiro, acelerou seu trânsido para o vermelho.
Já se sabia, então, que o Banco Master pagava rendimentos muito superiores à média de mercado, apoiado na propaganda que afirmava serem seguras as aplicações por estarem protegidas pelo Fundo Garantidor de Crédito, até o limite de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.
Nos anos anteriores e nos meses subsequentes ao anúncio do governador Ibaneiz, fatos registrados em processos legislativos e judiciais e/ou divulgados pela impresa, apenas alinhados, não ajudariam a elucidar por que se está tentando impedir ou dificultar o trabalho de investigação de organizações criminosas pela Polícia Federal? Esse não é um ataque ao serviço público que merece ser repelido por todas as entidades que defendem a atuação profissional dos servidores federais?
- 2023 – 2024: Entre outubro de 2023 e agosto de 2024, o fundo de pensão Rioprevidência, dos servidores do Rio de Janeiro, autorizado pelo governador Cláudio Castro (PL-RJ), investiu R$ 960 milhões em Letras Financeiras emitidas pelo Banco Master, com vencimentos previstos para 2033 e 2034. A Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), também subordinada a Cláudio CAstro (PL-RJ), investiu R$ 260 milhões;
- 07/2024: Em julho de 2024, dois empregados da Caixa Econômica Federal emitiram um parecer técnico bloqueando a compra, pela CEF, de R$ 500 milhões em títulos de renda fixa do Banco Master porque o modelo de negócios era “de difícil compreensão” e tinha “alto risco de solvência”. Foram afastados de suas funções. A CEF é dirigida por um indicado do deputado Arthur Lira (PP-AL);
- 14/11/2024: o Deputado Filipe Barros (PL-PR), li?der da Oposic?a?o na Ca?mara dos Deputados, próximo de Arthur Lira (PP-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI) apresenta na Câmara o PL 4.395/2024 que eleva de 250 mil para um milhão de reais o valor coberto pelo FGC para cada CPF ou CNPJ;
- 2025 – entre janeiro e maio de 2025: o BRB, banco estatal do DF, subordinado ao governador Ibaneiz Rocha (PMDB-DF) transferiu R$ 12,2 bilhões ao Banco Master pela compra de carteiras de crédito (posteriormente tidas como inexistentes pela justiça);
- 28/03/2025: o governador Ibaneiz Rocha (PMDB-DF) anuncia a compra do Master pelo BRB por R$ 2 bilhões; o dono do Master passaria a ser o Presidente de uma nova empresa a ser criada, o BRB Participações que, em tese, poderia mandar no BRB e inclusive preparar sua privatização;
- 28/08/2025: Operação Carbono Oculto: Polícia Federal investiga mil postos de combustíveis controlados pelo crime organizado; a PF também mira em 40 fundos de investimentos, igualmente controlados pelo crime organizado, sediados no que se convencionou chamar de “Faria Lima”;
- 02/09/2025: nos cinco meses passados de março a setembro, houve muita especulação e ansiedade, sem que o Banco Central autorizasse a compra do Master pelo BRB. No dia 2 de setembro, o Senador Ciro Nogueira (PP-PI) articulou um pedido de urgência para a votação de um Projeto de Lei que daria poderes à Câmara dos Deputados para iniciar o processo de demissão do Presidente e Diretores do BC. O ex-presidente do BC, Arminio Fraga, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que nunca tinha visto uma pressão desse tipo sobre o BC;
- 03/09/2025: em 3 de setembro é anunciada a decisão, unânime, da diretoria do BC, no sentido de rejeitar a compra do Master pelo BRB apontando, segundo a imprensa, riscos excessivos na operação. O pedido de urgência no PL de demissão de dirigentes do BC, articulado no dia anterior, foi largado ao esquecimento;
- 16/09/2025: PEC da Blindagem 1 – Numa ação rápida e imprevista, a Câmara dos Deputados aprova a PEC 3/2021 que proíbe a PF de investigar parlamentares e presidentes de partido sem autorização dos próprios parlamentares;
- 21/09/2025: centenas de milhares se manifestam contra a PEC da Blindagem, em todo o Brasil; em 24/09 a Comissão de Constituição e Justiça – CCJ do Senado derrota a PEC 3/2021 e determina seu arquivamento;
- 02/10/2025: o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) apresenta a PEC 38/2025, da Reforma Administrativa que só em 24.10 alcançou o número mínimo de 171 assinaturas para começar a tramitar, após intenso esforço do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB); propagandeada como “combate a privilégios” a PEC, na verdade, desmonta a estabilidade funcional de servidores e desmantela o serviço público;
- 28/10/2025: Operação Contenção, do governador Claudio Castro (PL-RJ), deixa 122 mortos, sendo cinco policiais com outros seis feridos em estado grave; começa propaganda pela tipificação das facções criminosas como narcoterroristas o que abriria caminho para intervenção dos EUA em território brasileiro; a pauta da segurança pública é subitamente alçada ao ponto mais elevado da conjuntura;
- 07/11/2025: PL da Blindagem 2 – o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) libera seu Secratário de Segurança, Deputado Derrite, com apoio de Claudio Castro e outros, para reassumir o mandato na Câmara e relatar o PL anti-facção; Derrite apresenta um substitutivo que, numa primeira versão, proíbe a PF de investigar organizações criminosas sem autorização dos governadores de estado; em virtude da repersussão negativa o substitutivo foi sendo alterado;
- 17/11/2025: Polícia Federal desencadeia a operação Compliance Zero e prende, entre outros, Daniel Vorcaro, do Banco Master;
- 18/11/2025: Banco Central decreta liquidação extrajudicial do Banco Master;
- 18/11/2025: em sua sexta versão, em apenas oito dias úteis, foi aprovado o substitutivo do deputado Derrite (PP-SP) ao PL das facções; segundo diversos especialistas, tal como ficou, o PL, fragiliza o combate às organizações criminosas; entre outros problemas, ele retira fundos da Polícia Federal (cerca de R$ 360 milhões anuais); rejeita a centralização nacional dos dados das façcões criminosas; dificulta o perdimento de bens de organizações criminosas pela via administrativa.
Diante dessa sequência, seria absurdo concluir que, o fracasso da tentativa de 16 de setembro de blindar parlamentares e presidentes de partido, levou a uma nova movimentação política, visando a “virar o jogo” e buscar enfraquecer as capacidades da Polícia Federal para investigar o crime organizado, de maneira independente?
Escancaradas e ousadas, tais movimentações levantam inevitavelmente a questão: quem e por que está interessado nisso?
O prosseguimento das investigações pela Polícia Federal e o trabalho dos servidores federais no regime de resolução do Banco Master, decretado pelo BC, certamente levantarão novos elementos para que se possa chegar a todas as conclusões necessárias para uma ampla compreensão.
- Edison Cardoni é diretor da Condsef/Fenadsef e servidor aposentado do Banco Central
Edison Cardoni